“A voz o chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu coração. Ajudar a mudar o destino de todos os pobres. Uma voz que atravessa a cidade, que parece vir dos atabaques que ressoam nas macumbas da religião ilegal dos negros. Uma voz que vem com o ruído dos bondes donde vão os condutores e motorneiros grevistas. Uma voz que vêm do cais, do peito dos estivadores, de João de Adão, de seu pai morrendo num comício, dos marinheiros dos navios, dos saveiristas e dos canoeiros. Uma voz que vem do grupo que joga a luta da capoeira, que vem dos golpes que o Querido-de-Deus aplica. Uma voz que vem mesmo do padre José Pedro, padre pobre de olhos espantados diante do destino terrível dos Capitães da Areia… Uma voz que vem de todos os pobres, do peito de todos os pobres” (Jorge Amado)

“Um bom cozinheiro pode dar gosto até a uma velha sola de sapato; da mesma maneira, um bom escritor pode tornar interessante mesmo o assunto mais árido” (Arthur Schopenhauer)

“Um jurista atual não pode mais receber o seu rubi de bacharel, repetindo, com serenidade, ‘a cada um o que é seu’, como se fosse a serena verdade do Direito” (Roberto Lyra Filho)

“A literatura, que tende a ensinar, a corrigir, a literatura útil; aquela que consigo leva o facho de luz intelectual, que rasga as trevas, e, como o sol, faz surgir o dia, aquela que guia e impele a sociedade para o seu estado perfeito físico e moral, essa é pão do espírito, que vivifica, alimenta, corrobora” (Oliveira Martins)

“Nascem os homens iguais; um mesmo e igual princípio os anima, os conserva, e também os debilita e acaba. Somos organizados pela mesma forma, e por isso estamos sujeitos às mesmas vaidades. Para todos nasce o sol; a aurora a todos desperta para o trabalho; o silêncio da noite anuncia a todos o descanso. O tempo que insensivelmente corre, e se distribui em anos, meses e horas, para todos se compõem do mesmo número de instantes” (Matias Aires)

“O jogo-Ciência, como é chamado por muitos, possibilita o desenvolvimento da memória, do raciocínio, da atenção e da capacidade de análise e reflexão. Na verdade, o Xadrez é muito mais do que um simples jogo. É, ao mesmo tempo, uma Arte e uma Técnica. Constitui um instrumento para aprimorar a personalidade (autodomínio, por exemplo) e, mais do que isso, uma barreira contra o vício, particularmente as drogas. No Xadrez, aliás, existe uma analogia profunda com o ‘Jogo da Vida’. O Xadrez é um jogo inspirado numa batalha. Na verdade, constitui uma guerra num universo miniaturizado, que é o tabuleiro. Os Peões simbolizam os soldados; as Torres, os tanques (os elefantes, antigamente); os Bispos, os blindados ligeiros (os camelos, antigamente); os Cavalos simbolizam a Cavalaria, ou os helicópteros nos dias de hoje, finalmente, a Dama (que os russos e outros povos chamam de ‘1º Ministro’), uma tropa pesada de elite (equivalente mais ou menos a uma divisão blindada)” (Fernando César de Miranda Leão, Cartilha de Xadrez)

“O historiador e o artista, na descrição de uma época, têm objetivos totalmente diferentes. Assim como não faria sentido que o historiador apresentasse uma personagem histórica no seu conjunto com toda a complicação dos pormenores da sua existência, também falsearia o seu objetivo se representasse o seu herói sempre numa atitude histórica… Para o historiador, desde que se trate da colaboração desta ou daquela personalidade numa grande obra, existem heróis. Para o artista, no ponto de vista das reações perante os mil incidentes da existência, não pode nem deve haver heróis, mas homens apenas. O historiador é por vezes obrigado a forçar a verdade para fazer com que concordem todos os atos de uma personagem histórica com a ideia que ele faz dela. O artista, pelo contrário, considera esta ideia preconcebida incompatível com o seu desígnio e trata apenas de compreender e de nos mostrar, não o autor deste ou daquele ato, mas um homem” (Leão Tolstoi)

“A virtude se manifesta sob três modalidades de ação: a primeira consiste no conhecer aquilo que, em cada coisa, existe de verdadeiro e autêntico, ou seja, o que é mais adequado aos efeitos que dela nascem, enfim a razão judicante de cada coisa. A segunda consiste em frear os movimentos desgovernados do espírito e fazer com que o apetites obedeçam à razão. A terceira está em valer-nos, de modo moderado e sensato, de quantos a nós se associam; graças a eles podemos ter, em abundância, aquilo que a natureza exige. Além disso, com a ajuda alheia, podemos evitar algum incômodo que nos ameaça e vingar-nos, inflingindo castigo dentro dos limites permitidos pelo senso humanitário e o espírito de justiça” (Cícero, Os deveres)

“As grandes doenças deveriam ser um instrumento de iluminação, de esclarecimento sobre a vida. Mas tudo que eu sabia era que ia morrer – e isso eu já sabia antes. Meu nível de autoconhecimento permanecia o mesmo, mas minha capacidade de fazer planos para o almoço tinha ido para o ralo. Minhas escolhas para o futuro seriam óbvias se eu soubesse quanto tempo me restava. Se fossem três meses, eu iria ficar ao lado da minha família. Se fosse um ano, escreveria um livro. Se fossem dez anos, voltaria a trabalhar. A ideia de que a gente deve viver um dia de cada vez não ajudava: o que eu deveria fazer com esse dia? (Paul Kalanithi)

“Precisava respirar. Levantei e abri as janelas. O ar que passa pela tela é quente e empoeirado – tem cheiro de tâmaras excessivamente maduras e de esterco. Obrigo os meus pulmões a absorverem grandes tragos desse ar, mas ele não alivia o aperto que sinto no peito” (Khaled Hosseini)