Poemas Tentados

02/ 11 /2021

É deste teu coração

É deste teu coração que irmana

amizade, afeto, vontade de viver,

é deste teu coração que pulsa

a crua verdade ao dizer

coisas vindas de impulso,

é deste teu coração que avulta

a renhida força para fazer

tudo que pode ser feito

ou conformar-se, fato consumado,

ajudar, persistir, abanar as chamas,

locução para o universo amado,

é deste teu coração que emana

a mensagem de crer e poder

pingar as gotas do viver

no solo fértil de quem ama.

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02/ 11 /2021

Por lá

Como será se perceber

no átimo do fim do ser,

que estampa poderá ter,

o que poderá suceder,

ver tudo apagar

ou transparecer,

escurecer ou esbranquiçar,

ver na névoa a túnica

de Deus a chamar

com as mãos

pela vida,

a outra vida ou

que houver por lá,

se houver por lá (?)

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12/ 09 /2021

Antanho

Da lonjura de antanho

lembro daqueles anos

em que não se tinha

muito para se distrair

nem modernidade

nem velocidade

nem virtual diversidade

a vagareza do mundo

a estranheza do alento

daquelas retinas do olhar

à luz solar ou estrelar

de um fogo a impregnar

no desejo a subsumir

do sorriso a se distribuir

durante a chuva pingada

o sentir amadurando

como um couve verde

às vezes amarelado

de um querer e quando

da vanglória da paz

ah lonjura irradiante

do que ficou distante

sei não volta mais.

 

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19/ 08 /2021

Dezenove

Em dezenove de agosto

passo a limpo

os céus e as terras

as areias movediças

as carniças velhas

as mazelas de outrora,

em dezenove de agosto

olho o mar

prestes a me atirar no mar

a me afundar no mar

pelas flácidas válvulas

da mente,

salitres, abutres,

pássaros voando

crianças gritando

eu no meio de mim

vista sem fim

a molhar o mar

a sugar o mar

é dia dezenove

que passa dentro de mim

e se dissolve

numa vontade de nadar

ares sem fim.

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04/ 08 /2021

Depois de antes

Depois de antes de um ato falho

eu guardo as sobras desse enredo

no chumbo dos olhos que espalho

no presságio que se forjou do lêvedo

aquelas massas de trovas e orvalhos

aquelas malhas para pescar segredos

aqueles porres de se apegar bem cedo

que findam na ruela da mente no talho

que reverbera o trotar velho mancebo

coisas redivivas nos bolsos escondidos

do implodir vagamente fino em retalhos.

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18/ 07 /2021

Andanças

Eu andei por muitos mundos,

me virei nos quatro polos,

me arranhei foi muitas vezes,

me afobei e me avexei,

perdi a cabeça

consequentemente cortada,

arrepiei os cabelos,

me lasquei nos gargalos

e nos antros,

ainda ressinto calos

e escalpelos,

o encalço recuperado

pelas bandagens,

um pouco cansado,

algo que me assusta,

trafeguei por muitos mundos,

pelos centros e pelas beiradas,

adentrei em variações obcecadas,

afundei conversas,

ignorei abusos,

aceitei recusas,

desviei desavisos,

dentre os que fiz de certo

e de errado,

pisei no chão pisado

e abri sorrisos muitos,

naveguei em terra firme

e nos pântanos,

me alegrei porém

nos próprios prantos

e só me restou o desencanto

de não ter manobrado o barco

para as margens do afundamento.

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27/ 06 /2021

Tristezas

O amor entristece demais,

amor dos pais,

amor dos filhos,

amor de irmãos,

amor de amores,

adormece, chora,

olhos molhados,

exaure a vontade,

queima a brandura,

freme de fervura,

o peito destrói,

cede a saudade,

arde a ternura,

triste partitura.

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23/ 05 /2021

Urgências

Precisa-se de um poema urgente,

tenha sol ou tenha fuligem,

tenha praia ou baita nuvem,

seja como for,

sem moleques jogando bola

ou belas passantes de maiô,

que recaia a sede de bebida,

que escorra suor de trabalhador,

que venha um rosto querido

excitar essa monotonia

assombrosa epigástrica

nas espumas sedosas

de um lago em cio,

precisa-se de um poema

que só fale da urgência

emergente do amor.

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02/ 05 /2021

Início e fim

Tudo começa

ou tudo termina

em algum impulso

em qualquer torpor

em algum silêncio

em qualquer silêncio

um parto um clamor

um extraordinário grito

um calmo pavor

tudo começa

ou tudo termina

em qualquer infinito

ou em algum palito

que se acende

ou que se apaga

essa é a saga

que cessa

ou germina

tudo começa

tudo termina.

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01/ 05 /2021

Antemanhãs

Oh dilemas tristes

de antemanhãs viscerais

ouço sinos da beatitude

ouço vozes da sensatez

para onde vou?

Se ao pular do eu

em vão deslizo na pista

com a carga pesada

sinaleiros obscurecidos

quero pintar meu interior

reflexivo em alto astral

porque sei que tudo

é solidão visceral.

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