Poemas Tentados

26/ 02 /2023

Galopes urbanos

Galopes urbanos

da sobrevivência

no trote

no mote

no impulso

de balanços

e tremedeiras

danças arriscadas

jogadas incompletas

angústias pesadas

pedradas no viver

reagir

relutar

recorrer

galopes urbanos

deixam marcas

pelos canos

cubículos

círculos

espaços abertos

por onde resvalam

desilusões sonhadas

em meio a fenos

sob as estacadas

das cenas transfiguradas,

galopes urbanos.

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19/ 02 /2023

Dois instantes

Há um instante para cuidar

e um outro para relaxar

nas esquinas vagas do som,

no fragor de corpos unidos,

mãos dadas no fim da festa,

esboço de mil pegadas,

fruição em arte lírica

de uma canção longínqua,

há um instante neutro

para sobrepor-se sereno

e um outro conturbado,

para fazer travessuras

e afundar nas alturas

bem descuidado.

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19/ 02 /2023

Teorema

Ele faz graça

e ela nada diz

não sabe se ela

é poema

ou se é tema

querê-la

tão íngreme

querê-la

tão cheio

no útero

ela é poema

ela é tema

variante

diferente

calada

escalada

escaldante

à latere

ele numa cena

de drama

ou num suspense

de arranhões

não sabe se a procura

para uma nova jornada

sabe que é difícil

uma saída à vista

ela é teorema

ou uma maquete

ou um arquétipo

ou um barquete

ele sem emblema

procura a solução

numa terra molhada

caso ela venha a escorregar

para segurá-la nos braços

e não mais largar

num longo espaço

de sonho adoidado

sendo ela teorema

assim como uma

alma pedinte

que circunda o olhar

se porventura

por alguma fraqueza

ou necessidade dela

ele possa com delicadeza

seus ombros a ela ofertar.

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29/ 01 /2023

Estremeço

Quando ouço esses surdos,

quando vejo esses surtos,

constrangido me desespero,

lânguido, disfarço, tolero,

vibro de nervos grifados,

rude neutro apavorado,

reacesos credos desfaço,

quando renego esses parcos

me apego a nacos

do vento pulsilânime vácuo,

quando ouço esses surdos,

quando vejo esses surtos,

envergo, abnego, reprovo indócil,

estremeço, estremeço em desmonte,

mais que desespero, remorsos,

tolero, grifo de nervos rompantes,

engulo a aflição, solícito absorto

em tiras atormentadas me açoito,

quando perpassam esses trotes,

quando alcançam esses motes,

fraquejo, fraquejo, estremeço sem norte,

no zumbido de vórtices estrondos fortes,

pela bruteza de inconsequentes atos,

em filete falsete ruminante lasso.

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18/ 01 /2023

O pouco que sei

O pouco que sei

vem do logro

e do malogro

vem dos diários

vem do fogo

chamuscado

nos olhos,

o pouco que sei

vem do dia a dia

no rosto derramado,

vem dos erros

e dos desacertos

que fazem moer-me

no encosto,

o pouco que sei,

sei que sei pouco

e falta muito

para tornar-me

ainda que um ser incompleto.

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03/ 01 /2023

Vivendo

Em algum lugar do passado

eu podia ter morrido,

o quarto está vazio e me olho no espelho,

cresci sem risco nas chamas dos 70,

quase caí do ônibus na violenta curva de 80,

mas a selva me extenuou de leite em 90,

no zero zero resisti, decantei, circunspecto,

agora pós Vigésimo Terceiro do Vigésimo

Primeiro Século o que farei de mim,

estou mais fraco e menos vivo,

diluo-me gota à gota,

a barba me sai permanentemente,

foram produzidos sêmens à exaustão,

milhares de pedaços de unhas,

centésimos de suores esparramados,

vestes se foram para os aterros,

só ontem morri mil vezes,

acordo todo dia e faço preces,

após esquecer-me levanto,

na renovação do esforço,

bonde espírito teimoso,

corpo são que assaz adoece,

mas que também vai à forra.

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28/ 11 /2022

O canto da Poesia

Ecoa

ressoa

dá prazer,

o canto da poesia

é veia saltitante

no bem querer,

o canto da poesia

é ceia,

panaceia,

faz rodar,

faz mover,

sem música,

faz cantar,

faz vibrar

a alegria de conviver,

o canto

da poesia

assoma,

ressuma,

retumba,

corcunda que anda ereta

acima das nuvens do gostar

como a chuva no molhado

de um balde a decantar

o tom de um piano audível

nas ribombas do brilhar.

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20/ 11 /2022

Inacabada

Oh noite que não acaba

são os pintassilgos

são os sanhaçus

são os corvos azuis

sãos os urubus

são as saíras vermelhas

cantam sem cordas

às minhas penas

meias centelhas

penso na manhã menina

na fotografia da mente

ela vem sorridente

oh noite que não se acaba

afago corvos mornos

encho baias vazias

essa fome dá sede

de cantos desacordados

no meu céu umidificado

em cor de rosa verde.

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20/ 11 /2022

Aqui jaz

Desenterro meu corpo documental,

retiro papéis de gavetas e de armários,

dos arquivos e dos fichários,

rasgo os recortes de jornal,

amasso folhas envelhecidas,

numa limpeza total;

linhas manchadas,

tonéis obsoletos,

prendedores libertos,

apagadores apagados,

clipses em eclipses,

sistemas físicos esqueléticos

desabam no cesto de lixo;

agora o turno é da guarda magnética

nos conectores dos visores multicores,

no painel quadrado, enxuto, altiplano,

nas nuvens do cotidiano,

da edificação imemorial;

agora tudo é poeira

de solidificação imaterial.

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21/ 11 /2021

Chuvas

Chuvas que alagam e devaneiam,

que molham a alma, que deságuam,

que enxaguam e avolumam o passeio,

chuvas que possibilitam o bom caminho,

com umidade e esperança contra o anseio,

pelas tábuas das passagens do ser sozinho.

 

 

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