Penso em ti
Eu penso em ti nas horas de tristeza
quando rola a esperança emurchecida
nas horas de saudade e morbideza.
Ai! Só tu és minha ilusão querida.
Eu penso em ti nas horas de tristeza.
(Castro Alves)
Eu penso em ti nas horas de tristeza
quando rola a esperança emurchecida
nas horas de saudade e morbideza.
Ai! Só tu és minha ilusão querida.
Eu penso em ti nas horas de tristeza.
(Castro Alves)
Ninguém
oferece flores.
A flor,
em sua fugaz existência,
já é a oferenda.
Talvez, alguém,
de amor,
se ofereça em flor.
Mas só a semente
oferece flores.
(Mia Couto)
Dentro de mim há pássaros que cantam.
E eu me sinto cansado de partir.
Sou homem – mas não sei para onde ir.
Sou pássaro – não sei por que me espantam.
(Carlos Nejar)
Eu faço versos como quem chora
de desalento… de desencanto…
Fecha o meu livro, se por agora
não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente…
Tristeza esparsa… remorso vão…
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
assim dos lábios a vida corre,
deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.
(Manuel Bandeira)
Maria sem teto
precisa de afeto
e a vida é o que é.
Conheço Maria
talvez de uma orgia
nalgum cabaré.
Maria anda à toa,
mas sonha ser boa…
Eu sei que ela é pura,
que suave criatura,
que clara quermesse,
Maria seria
se alguém algum dia
afeto lhe desse.
Quando ela me olha
esquiva, medrosa,
Maria é uma rosa,
que a vida desfolha…
Desfolha sem dó.
(Edison Moreira)
À deriva
estou
por falta de você…
Meus olhos,
carentes do teu olhar
vagueiam tristes…
Minha alegria
padece a falta
de tua magia
Na falta do toque
de tuas mãos
meu coração
silencia…
(Sílvia Grijó)
Sentimentos carnais, esses que agitam
Todo o teu ser e o tornam convulsivo…
Sentimentos indômitos que gritam
Na febre intensa de um desejo altivo.
Ânsias mortais, angústias que palpitam,
Vãs dilacerações de um sonho esquivo,
Perdido, errante, pelos céus, que fitam
Do alto, nas almas, o tormento vivo.
Vãs dilacerações de um Sonho estranho,
Errante, como ovelhas de um rebanho,
Na noite de hóstias de astros constelada…
Errante, errante, ao turbilhão dos ventos,
Sentimentos carnais, vãos sentimentos
De chama pelos tempos apagada…
(Cruz e Souza)
Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.
Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.
A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Bebo à casa arruinada,
às dores de minha vida,
à solidão lado a lado
e a ti também eu bebo –
aos lábios que me mentiram,
ao frio mortal nos olhos,
ao mundo rude e brutal
e a Deus que não nos salvou
(Anna Akhmátova)
Nós poderíamos ter cruzado a estrada, mas hesitamos.
Então veio a patrulha;
O líder era consciencioso e aplicado,
Os homens eram ásperos, indiferentes.
Enquanto parávamos à espera,
O interrogatório começou. Disseram-nos que tudo
Deveria se esclarecer agora: quem, o que éramos,
De onde vínhamos, com que fim,
Contra que país conspirávamos, que país nós traíamos.
Perguntas e mais perguntas.
Ali ficamos e respondemos por todo o dia
E víamos, através da estrada, além da sebe,
Os amantes aos pares passarem descuidados,
Mão enlaçada à mão, sonhando outra estrela
E estavam tão perto que poderíamos lhes falar.
Aqui não podemos escolher respostas ou ações,
Embora os amantes continuem seu passeio
E o campo, que não pensa nada, esteja perto.
Estamos em nosso limite,
A paciência quase esgotada
E o interrogatório continua.
(Edwin Muir)