Aqui jaz
Desenterro meu corpo documental,
retiro papéis de gavetas e de armários,
dos arquivos e dos fichários,
rasgo os recortes de jornal,
amasso folhas envelhecidas,
numa limpeza total;
linhas manchadas,
tonéis obsoletos,
prendedores libertos,
apagadores apagados,
clipses em eclipses,
sistemas físicos esqueléticos
desabam no cesto de lixo;
agora o turno é da guarda magnética
nos conectores dos visores multicores,
no painel quadrado, enxuto, altiplano,
nas nuvens do cotidiano,
da edificação imemorial;
agora tudo é poeira
de solidificação imaterial.