Vivendo
Em algum lugar do passado
eu podia ter morrido,
o quarto está vazio e me olho no espelho,
cresci sem risco nas chamas dos 70,
quase caí do ônibus na violenta curva de 80,
mas a selva me extenuou de leite em 90,
no zero zero resisti, decantei, circunspecto,
agora pós Vigésimo Terceiro do Vigésimo
Primeiro Século o que farei de mim,
estou mais fraco e menos vivo,
diluo-me gota à gota,
a barba me sai permanentemente,
foram produzidos sêmens à exaustão,
milhares de pedaços de unhas,
centésimos de suores esparramados,
vestes se foram para os aterros,
só ontem morri mil vezes,
acordo todo dia e faço preces,
após esquecer-me levanto,
na renovação do esforço,
bonde espírito teimoso,
corpo são que assaz adoece,
mas que também vai à forra.