Poemas Transcritos - Sobre Ela (VI)

23/ 06 /2018

Sobre Ela (VI)

Mamãe, estou tão confusa com a visita

frequente da morte em torno de mim, como a

lembrar minha sorte, como a dizer ainda há tempo,

menina de ser feliz. E é como luz que ilumina o

breu da noite sem fim. A vida, mamãe, é esse facho

descortinando o percurso, ardendo dentro de mim.

Ontem, eu a vi de bruços no leito de um homem

adulto eternamente a dormir, a morte, ali, como um

susto, paralisando os impulsos, definitivo ruir.

Mamãe, a vida é nascente, chegar ao mar é o

desfecho de seu contínuo fluir. Só a morte é

permanente e o amor, mamãe, é o fluxo, infinitivo

elixir. Mamãe, num tempo vindouro, nosso destino

é partir; morte é igual a futuro, mover-se é chegar

ao fim. Morrer é transpor os muros, mamãe, é

quebrar correntes e a nós resta tão somente

caminhar e compartir.

(Amneres)

categoria: Poemas Transcritos