Sobre Ela (VI)
Mamãe, estou tão confusa com a visita
frequente da morte em torno de mim, como a
lembrar minha sorte, como a dizer ainda há tempo,
menina de ser feliz. E é como luz que ilumina o
breu da noite sem fim. A vida, mamãe, é esse facho
descortinando o percurso, ardendo dentro de mim.
Ontem, eu a vi de bruços no leito de um homem
adulto eternamente a dormir, a morte, ali, como um
susto, paralisando os impulsos, definitivo ruir.
Mamãe, a vida é nascente, chegar ao mar é o
desfecho de seu contínuo fluir. Só a morte é
permanente e o amor, mamãe, é o fluxo, infinitivo
elixir. Mamãe, num tempo vindouro, nosso destino
é partir; morte é igual a futuro, mover-se é chegar
ao fim. Morrer é transpor os muros, mamãe, é
quebrar correntes e a nós resta tão somente
caminhar e compartir.
(Amneres)