Poemas Transcritos - Poema de desintoxação

16/ 02 /2015

Poema de desintoxação

Em densas noites

com medo de tudo:

de um anjo que é cego

de um anjo que é mudo.

Raízes de árvores

enlaçam-me os sonhos

no ar sem aves

vagando tristonhos.

Eu penso o poema

da face sonhada,

metade de flor

metade apagada.

O poema inquieta

o papel e a sala.

Ante a face sonhada

o vazio se cala.

Ó face sonhada

de um silêncio de lua,

na noite da lâmpada

pressinto a tua.

Ó nascidas manhãs

que uma fada vai rindo,

sou o vulto longínquo

de um homem dormindo.

(João Cabral de Melo Neto)

categoria: Poemas Transcritos