Odes de Ricardo Reis (trecho)
Quer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
por nós, quer-nos, oprime-nos.
Não só quem nos odeia ou nos inveja
nos limita e oprime; quem nos ama
não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
de afetos, tenha a fria liberdade
dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada,
é livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.
Não quero, Cloe, teu amor, que oprime
Porque me exige amor. Quero ser livre.
(Fernando Pessoa)