Cobra Norato (IV)
Esta é a floresta de hálito podre
parindo cobras.
Rios magros obrigados a trabalhar.
A correnteza se arrepia
descascando as margens gosmentas.
Raízes desdentadas mastigam lodo.
Num estirão alagado.
O charco engole a água do igarapé.
Fede.
O vento mudou de lugar.
Um assobio assusta as árvores.
Silêncio se machucou.
Cai lá adiante um pedaço de pau seco:
Pum.
Um berro atravessa a floresta.
Chegam outras vozes.
O rio se engasgou num barranco.
Espia-me um sapo sapo.
Aqui tem cheiro de gente.
– Quem é você?
– Sou a Cobra Norato.
Vou me amasiar com a filha da rainha Luzia.
(Raul Bopp)