Poemas Transcritos - Cobra Norato (IV)

20/ 02 /2014

Cobra Norato (IV)

Esta é a floresta de hálito podre

parindo cobras.

Rios magros obrigados a trabalhar.

A correnteza se arrepia

descascando as margens gosmentas.

Raízes desdentadas mastigam lodo.

Num estirão alagado.

O charco engole a água do igarapé.

Fede.

O vento mudou de lugar.

Um assobio assusta as árvores.

Silêncio se machucou.

Cai lá adiante um pedaço de pau seco:

Pum.

Um berro atravessa a floresta.

Chegam outras vozes.

O rio se engasgou num barranco.

Espia-me um sapo sapo.

Aqui tem cheiro de gente.

– Quem é você?

– Sou a Cobra Norato.

Vou me amasiar com a filha da rainha Luzia.

(Raul Bopp)

categoria: Poemas Transcritos