Poemas Transcritos - Ancila Negra

18/ 09 /2016

Ancila Negra

Há ainda muita coisa a recalcar,

Celidônia, ó linda moleca ioruba

que embalou minha rede,

me acompanhou para a escola,

me contou histórias de bichos

quando eu era pequeno,

muito pequeno mesmo.

Há muita coisa ainda a recalcar:

As tuas mãos negras me alisando,

os teus lábios roxos me bubuiando,

quando eu era pequeno,

muito pequeno mesmo.

Há muita coisa ainda a recalcar

ó linda mucama negra,

carne perdida,

noite estancada,

rosa trigueira,

maga primeira.

Há muita coisa a recalcar e

esquecer:

o dia em que te afogaste,

sem me avisar que ias morrer,

negra fugida na morte,

contadeira de história do teu

reino,

anjo negro degredado para sempre,

Celidônia, Celidônia, Celidônia!

Depois: nunca mais os signos do

regresso.

Para sempre: tudo ficou como um

sino ressoando.

e eu parado em pequeno,

mandingando e dormindo,

muito dormindo mesmo.

(Jorge de Lima)

categoria: Poemas Transcritos