A Infância
A infância arrebata como a ventania,
no retorno de uma noite calma fria,
de sonhos, sorvetes, picolés
e doces melados de melancolia;
a infância se quebra
em ventos de saudades
nos balanços da cadeira,
cai tão úmida num peito desnudo,
desce num corpo franzino a ladeira,
corre nas águas do luto de um menino,
porque ainda há banho de chuva na calçada
e pinga na imagem um jogo lúdico pela madrugada;
a infância prossegue
no ombro dum cavalo paterno, em disparada,
é, ainda há uma criança chorando com medo do escuro.
A infância ressoa trêmula e eterna,
porque numa brincadeira qualquer na hora de dormir
escorre um sorriso infantil ingênuo e puro,
é, lembrança, tão desdita por estes lábios maduros,
gota a gota molha-se de saudades e nostalgia,
da goteira de sonhos para respingar o entardecer dos dias.
(VSO)