Fenomenologia da Incerteza
Eu sou o café e a taça em que bebo.
Sou a embriaguez e o cigarro
que no cair da noite, consome.
Sou a esperança, sou este medo.
Sou os pedestres que na rua caminham
enquanto de casa eu os desejo boa vida,
sou a música repetidas vezes tocada.
Um quarto escuro, em sozinha madrugada.
Sou o desejo de uma boca que deseja
a tua cem vezes em minha provada.
Sou o toque de pele que se perdeu
no vazio que entre nós, lateja.
Sou a palavra; morta, pois calada
que planejei, em versos, presentear.
Sou o olhar, naquele mar de gentes
que procura tesouros, hoje naufragados.
Sou a última cena de um filme de Godard,
um tiro pelas costas e um súbito desprezo.
Sou duas tenazes pernas confiantes,
caminhando em liberdade para o abismo.
(Guilherme Steinhaus da Silva)