Poemas Transcritos - Fenomenologia da Incerteza

18/ 11 /2018

Fenomenologia da Incerteza

Eu sou o café e a taça em que bebo.

Sou a embriaguez e o cigarro

que no cair da noite, consome.

Sou a esperança, sou este medo.

 

Sou os pedestres que na rua caminham

enquanto de casa eu os desejo boa vida,

sou a música repetidas vezes tocada.

Um quarto escuro, em sozinha madrugada.

 

Sou o desejo de uma boca que deseja

a tua cem vezes em minha provada.

Sou o toque de pele que se perdeu

no vazio que entre nós, lateja.

 

Sou a palavra; morta, pois calada

que planejei, em versos, presentear.

Sou o olhar, naquele mar de gentes

que procura tesouros, hoje naufragados.

 

Sou a última cena de um filme de Godard,

um tiro pelas costas e um súbito desprezo.

Sou duas tenazes pernas confiantes,

caminhando em liberdade para o abismo.

(Guilherme Steinhaus da Silva)

categoria: Poemas Transcritos