Poemas Transcritos - Vou-me embora para Pasárgada

09/ 09 /2018

Vou-me embora para Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

lá sou amigo do rei

lá tenho a mulher que quero

na cama que escolherei.

Vou-me embora pra Pasárgada

vou-me embora pra Pasárgada

aqui eu não sou feliz

lá a existência é uma aventura

de tal modo inconsequente

que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

vem a ser contraparente

da nora que nunca tive.

E como farei ginástica

andarei de bicicleta

montarei em burro brabo

subirei no pau-de-sebo

tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

deito na beira do rio

mando chamar a mãe-dágua

pra me contar as histórias

que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar.

Vou-em embora pra Pasárgada.

Em Pasárgada tem tudo

é outra civilização

tem um processo seguro

de impedir a concepção

tem telefone automático

tem alcaloide à vontade

tem prostitutas bonitas

para a gente namorar.

E quando eu estiver mais triste

mas triste de não jeito

quando de noite me der

vontade de me matar.

- Lá sou amigo do rei –

terei a mulher que eu quero

na cama que escolherei.

Vou-me embora pra Pasárgada.

(Manuel Bandeira)

 

categoria: Poemas Transcritos