Vida
Hoje a tempestade ameaçou,
Mas não molhou,
Apenas resfriou, os termômetros,
Esfriou, os neurônios,
Congelando a razão,
Morada do que não somos.
Porque o que somos,
Não é caso pensado.
Não se molha com a chuva.
Não derrete com o calor,
Nem se desfaz com o ácido.
O que somos
É tesouro bem guardado
Sob chaves de ouro,
Em cofres de aço.
Nalgum lugar do corpo
Sob sinfonia velada,
Alternando bits plácidos
E batuques acelerados.
O que somos, levita!
Voa, não se limita,
ao medo,
à pandemia!
Nem se inclina
ao tempo que esfria,
Sob a ameaça da chuva;
Que agora cai,
Feito pranto de menina
Sobre solo fecundo,
Despertando a semente adormecida
Que se espreguiça
Emergente, colorida!
Irrompe a terra amolecida.
Resplandece, gera vida,
Pelas lágrimas da nuvem cinza!
(Marcelo Kassab)
(Poema vencedor do IV Concurso Literário “Bom Viver”/Habeas Liber/2020/UnB)