Não quero domingos
Se o ditador tortura e crê em Deus
eu não creio em Deus;
se o militar espanca e vai à missa,
eu não vou à missa;
se a polícia assassina e manda rezar por seus mortos,
eu não quero rezar;
se há massacre de crianças,
se as rosas estão em sangue,
se há morte nas ideias,
se há bombas nas ogivas
e corpos dilacerados,
se há cárceres e noites
para gemer a dor de ter pensado,
se o que se pensa é crime
contra o que pensa diferentemente,
mas é o dono do cárcere,
se o que morre no cárcere, morre sonhando
que um dia poderá ser dono de outro cárcere
para vingar a dor física do ideal oposto,
se todos matam todos, militares, terroristas,
e vão à missa aos domingos,
eu não quero domingos!
(Saulo Ramos)