Quando minha voz parar
Quando minha voz parar
quero prostrar-me lá no céu,
quando este corpo ceder
quero ainda dizer adeus.
Quem não me reconhecer
poderá saber que sairei daqui
nos olhos de um pássaro subindo ao céu.
Quando este sangue esfriar
montarei lá em cima meu ofício;
quando os bichos vierem aqui me aliviar,
meu corpo não será mais meu,
não me importo em me doar,
alguma parte de mim
poderá ir para Deus, quiçá:
a dos vícios e dos sacrifícios,
da ignorância e da miseração,
da resiliência e da calma,
a parte que tenta e acredita
na fórmula leniente contra dureza d’alma,
eu, velho rejuvenescido,
estarei em meu ofício,
lá embaixo no céu.