Ode à Poesia
Ode à poesia que se esconde
no reflexo do vidro do bonde,
na mente fechada para além,
nas vozes inauditas por quem
ignora adrede o forte sentir
sem se caber no seu temor.
Ode à poesia do asfalto quente,
do mundo minimizado,
da embaçada lente,
da vidraça quebrada,
do beijo surpreendente
dos espasmos de ator.
Ode à poesia,
do céu iluminado,
dos comezinhos
diques tiques mancadas
e dos flertes de amor.
Passeio por aí numa esteira
de apoderada gana sorrateira,
ode ao ser, ode à vida, ode ao fato,
ódio ao escárnio insensato,
ódio a mecanicismos estúpidos,
à ganância pelo maior valor,
à falta de tempo para se olhar
para dentro, para baixo,
ode à poesia tórrida nauseabunda,
trêmula, verde, madura,
que se arrasta como cobra
inofensiva e não pede licença
para morder na veia do coração,
com o veneno utópico da emoção.
vso