Poemas Tentados - Ode à Poesia

16/ 06 /2018

Ode à Poesia

Ode à poesia que se esconde

no reflexo do vidro do bonde,

na mente fechada para além,

nas vozes inauditas por quem

ignora adrede o forte sentir

sem se caber no seu temor.

Ode à poesia do asfalto quente,

do mundo minimizado,

da embaçada lente,

da vidraça quebrada,

do beijo surpreendente

dos espasmos de ator.

Ode à poesia,

do céu iluminado,

dos comezinhos

diques tiques mancadas

e dos flertes de amor.

Passeio por aí numa esteira

de apoderada gana sorrateira,

ode ao ser, ode à vida, ode ao fato,

ódio ao escárnio insensato,

ódio a mecanicismos estúpidos,

à ganância pelo maior valor,

à falta de tempo para se olhar

para dentro, para baixo,

ode à poesia tórrida nauseabunda,

trêmula, verde, madura,

que se arrasta como cobra

inofensiva e não pede licença

para morder na veia do coração,

com o veneno utópico da emoção.

vso

categoria: Poemas Tentados