Amanhã não vem
Tantas horas passam,
amanhã não vem.
A manhã morre na tarde
que prepara a noite assaltante,
amanhã tão longe;
brotos abrem-se em pétalas,
o cheiro impaciente da espera,
toco, nevoeiro, querências,
sede, drama e suspense,
vão e vêm ondas intensas,
barulhos, ócios granulares
do futuro escasso;
medos tremulares,
dúvidas diárias,
mãos nos maxilares,
esperas e desabafos,
futuro em falso,
porque amanhã não vem;
coisas velhas no armário,
cartas novas na janela,
compromissos de ontem,
sopa fria derradeira,
estrela guia condoreira,
amanhã não vem.
Quando o amanhã vier
não abrirá sorriso vasto,
passará abrupto e ligeiro,
como cavalos rumo abaixo.