Citações Literárias - Poeta Mandelstam

10/ 02 /2018

Poeta Mandelstam

“O trem se arrastou para dentro da estação de Vorónej momentos antes do meio-dia. Puxei minhas duas sacolas (a menor com uma muda de roupas e artigos de toalete, a maior cheia de livros e variados presentes para os Mandelstam) para a plataforma, examinando bem os rostos, procurando por um que parecesse familiar. E então ouvi uma voz atrás de mim gritar: Anna Andréievna! Virei e me deparei embasbacada com um completo estranho. Era, evidentemente, o poeta Mandelstam. Minha dificuldade de reconhecê-lo o havia claramente assustado. “Minha querida Anna, mudei tanto assim?” – perguntou. “– Óssip?” – Em carne e osso, embora mais osso do que carne. Eu estava sem fala. Óssip trajava um paletó de couro amarelo que lhe ia até os joelhos e um ushanka de couro com as orelheiras atadas. Tinha a barba por fazer, estava magro como um palito, o ombro direito se curvava para a frente, o braço direito pendia rigidamente do ombro. Seus dentes estavam em condições lamentáveis, os lábios azuis, as bochechas afundadas. De pé ali, respirando em arquejos curtos, parecia uns vinte anos mais velho do que seus quarenta e cinco… Mandelstam tirou o paletó e o colarinho e, oferecendo-lhe a mão, levou-a para o pequeno quarto. ‘- Havia poetas ingleses’ – disse a ela – ‘que acreditavam que, para cada ejaculação, um homem perde um dia de sua vida’. ‘– Isso indica que a mulher ganha um dia? – perguntou Zinaida, com inocência fingida’. ‘Não’ – disse Mandesltam, maliciosamente -, ‘a não ser que ela engula’. Os pequenos ombros de Zinaida se sacudiram com o riso silencioso. ‘– Eu não ficaria à vontade prolongando minha vida à custa do encurtamento da sua” (Robert Littell, De Mandelstam para Stálin).

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