Citações Literárias - Kararaô

16/ 09 /2018

Kararaô

“Então veio a Transamazônica e o governo anunciou que estava contratando, em caráter de urgente, pessoal para as frentes de atração da Funai. Um parente distante no órgão, o sertanista Júlio Reinaldo de Morais, o Camiranga, convidou Benigno para a atividade de auxiliar de enfermagem, que ele havia apreendido com os padres. Benigno achou que haveria algum curso preparatório, algum treinamento, mas poucas semanas se passaram e ele já estava na selva atrás de índios isolados. Na primeira expedição, Benigno foi acompanhado de Camiranga, três funcionários da Funai e quatro índios, dentre os quais Kamayurá. Após dez dias de barco, entraram a caminhar na mata atrás de índios que seriam um grupo dos Kararaô… Montaram um acampamento para descansar e Benigno foi caçar com mais dois índios. Viram rastros na mata e vestígios de castanhas que haviam acabado de ser limpas com uma pedra. Na manhã seguinte, um jacu, ave da região, começou a piar forte perto de um igarapé. Benigno correu e, ao ver o animal espetado por uma flecha e as pegadas dos índios na lama, resolveram recuar. No dia seguinte, o grupo retomou a caminhada até chegar a uma roça feita pelos índios. Na mata, estes começaram a cantar. Camiranga reconheceu o canto, que repetiu em voz alta. Após um momento de silêncio, os índios apareceram. Foi a música que aproximou dois grupos humanos tão incrivelmente distintos. Benigno contou 29 índios, entre adultos, mulheres e crianças. Todos tinham a cabeça raspada. Uma idosa veio caminhando apoiada num pedaço de pau. Ela disse que eram o povo Kararaô” (Rubens Valente, Os fuzis e as flechas).

categoria: Citações Literárias k