Aquele amor
Aquele amor foi
como veio
sem ter nascido
sem ter morrido
aquele amor
foi como veio
sem um adeus
sem uma lágrima
sem uma ânsia
apenas duas lembranças
do que poderia ter sido,
aquele abraço apertado
aquele sorriso estendido.
Aquele amor foi
como veio
sem ter nascido
sem ter morrido
aquele amor
foi como veio
sem um adeus
sem uma lágrima
sem uma ânsia
apenas duas lembranças
do que poderia ter sido,
aquele abraço apertado
aquele sorriso estendido.
Essa minha sina segue,
meu medo me persegue,
essa minha sina escorre,
meu medo me socorre.
Esse amor recôndito
sorte acaso encontro
vaticínio sina epopeia
da paixão que medeia.
No pasto a vaca muge com surpresa,
presa, estrangulada a vaca morre,
a carne espicha, o sangue escorre
do açougue ao fogo, à vossa mesa.
Tínhamos uma cidade e não sabíamos
que era nossa aventura de fantasia real,
andávamos por campos verdejantes
brincávamos de esconde-esconde
nos terrenos baldios e no quintal,
pulávamos dos barrancos,
jogávamos bola no lamaçal,
fazíamos dos morros o nosso bonde,
tínhamos uma cidade e não sabíamos
que era nossa realidade sobrenatural,
nadávamos nas águas com botos e botas,
contornávamos nas popas das canoas as ilhotas
ou remávamos nas toras dos paus e balseiros,
andávamos léguas nas matas, colônias,
tudo era nosso e de quem quisesse,
o ar era grátis, água boa de beber,
as árvores de subir, o fruto de comer,
tudo era barato, barato de viver,
o olhar a contemplar
a inocência do existir,
divertimentos a curtir,
abraços a apertar,
sem taxas de adesão,
sem vencimentos
sem sofrimentos
desses do coração,
tínhamos uma cidade,
decerto pequena,
mas de grande emoção,
para se enfiar em buracos,
para pedalar nas ladeiras,
para cavalgar a pé sem grilhões,
os aviões de papel a se lançarem
a mil conversas durante o luar
tudo era nosso e de quem quisesse
sem taxas de adesão
só a amizade no coração
lembro como era bom passear
como se flutuássemos num balão,
pessoas nos espaços e nas esferas,
brincadeiras, sorrisos, paqueras,
cabeças na chuva, alagamentos,
marchas colegiais, magníficos carnavais,
tudo era fantasia real e de quem quisesse
e não sabíamos que era o ideal paraíso
que rememoro em reducionismo
como se decrescesse em mim
um tal qual Benjamin B
esvaziando a gaveta do existir.
Dobra os arcos,
apaga as velas,
muito prazer sofreguidão,
pega o bolo, vai ao solo,
pilhagem em autocontenção,
muito prazer, está a sofrer
e dessa dor não abre mão,
e repete,
dessa dor não abre mão,
que abala desde a pernoite,
rasga as telas, vai ao teto,
cai ao solo sem se conter,
quem é você, muito prazer,
sofreguidão?
A lua tem suas fases,
o calor tem suas brasas,
o amor tem suas casas,
fiquemos em paz,
a lua tem suas faces,
o calor tem suas massas,
o amor tem suas asas
e não nos deixa para trás.
Enquanto dormes alguém te ronda e te cuida,
enquanto dormes alguém te observa e admira,
e sem desespero tenta adivinhar teus sonhos;
enquanto dormes alguém com cuidado te cobre
o peito no afã de dar-te conforto na cama;
enquanto dormes alguém te amacia de afeto;
enquanto dormes, enquanto dormes,
podes até sonhar com este manto breve
que te acompanha no clarão do dia
e te vela com alegria enquanto dormes.
Tu não sabes em quais rios me lançaste
ou em quantas águas me afundaste
sem piedade ou dó,
nem com quantos tiros me acertaste
e com quantos rombos me deixaste,
sequer me viste agonizando
por um pensar ainda leniente
que se esfriou amarguradamente
dentro duma mente que era tua,
que esvaiu frágil, despida e crua,
quando impuseste teu poderio,
depois que me afogaste no calado rio,
depois que me alvejaste no abafado tiro,
sobretudo indócil, retirante do querer,
profundo desvario, eu, metralhado e só.
Tristezas e vertigens
delas não podemos escapar
nem só de alegria a gente vive
vezes a sorrir, vezes a chorar.